14 de janeiro de 2010

Sean: um excelente roteiro

Em uma distante República autoritária um cidadão norte-americano é mantido preso pelas autoridades. A cavalaria americana numa espécie de reprise doas ataques aos fortes apaches, ou marines com apoio de bombardeios modernos, jatos invisíveis aos radares e pára-quedistas destemidos, resgata-o e leva-o de volta. A frente dos combatentes americanos, um rejuvenescido Arnold Schawzeneger largou seus afazeres de Governador da Califórnia, para, mais uma vez, defender incondicionalmente a superioridade dos princípios democráticos da Grande Nação. O filme é baseado num livro que também vendeu como água nos EUA e no resto do Planeta.
Conta a história de Sean, “S” para os que acompanham mais recentemente a história e os cínicos que se autodenominam adultos. Um menino trazido por sua mãe para o Brasil, onde casou novamente e veio a falecer ao dar à luz a uma menina. O padrasto, a família dele e da mãe defenderam na justiça a permanência do menino no Brasil. O pai biológico, a Secretária de Estado Norte-Americana, Hillary Clinton e o povo americano defenderam na justiça e torceram pelo retorno de Sean. Quem tem razão? Mesmo se eu conhecesse os envolvidos morreria com a suprema e humana virtude da dúvida.
Um fato, no entanto, sempre me chamou a atenção neste episódio. Se eu fosse o pai biológico deste menino não esperaria a intervenção da cavalaria americana para resgatar meu filho. Minhas paixões são um bocado menos racionais que isto. Mas, diriam muitos, e com razão, tratam-se de pessoas diferentes. E os americanos só não são racionais nos filmes onde põem a vida em jogo para defender o resto da humanidade. Nos seus negócios são “um poço até aqui” de pragmatismo.
Mas outra coisa me chamou a atenção quando do “resgate” do garoto. O garoto, o pai, um parlamentar americano – não faz qualquer diferença se democrata ou republicano – e um jornalista da rede de TV WNBC foram levados de volta num avião fretado pela rede de TV. Como explicar que um pai – eu disse PAI – aceite que uma criança que foi exposta a uma disputa sobre a sua guarda seja exposta agora às câmeras de TV e aos flashes de jornais sensacionalistas ou respeitáveis? Soou de uma hipocrisia sem limites, para mim, claro, a reclamação dos avós americanos, preocupados com o estado emocional da criança. Ou será que eles acreditam que o dinheiro que ganharão com a história é suficiente para pagar psicólogos e terapeutas para o garoto?
A foto de uma fileira de câmeras postadas à frente da casa para onde o garoto foi levado lembra a multidão de fotógrafos e cinegrafistas em busca de imagens de uma final de futebol americano. Sean não é mais protagonista desta história. É vítima de versões e do uso de sua imagem para fazer dinheiro. Eu fico com a HISTÓRIA dele, que nunca será contada. Independentemente de quem for vitorioso nesta “final”, ele já foi derrotado. Pela mesquinharia dos que proclamam amá-lo.

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