5 de junho de 2012

Exoneração de diretores das escolas estaduais: gestão responsável ou razões obscuras?

A exoneração de um numeroso grupo de diretores de escolas estaduais e os posicionamentos da SEEDUC para justificar tais exonerações permite alguns questionamentos. Colarei abaixo a notícia publicada pelo oglobo.com e, a partir dela, discutirei algumas questões: http://oglobo.globo.com/educacao/estado-exonera-de-uma-vez-38-diretores-de-escolas-5101165 1. Para legitimar as exonerações a SEEDUC informa que diretores “indicados politicamente” serão substituídos por outros que passaram por processos seletivos. Não perderei meu tempo olhando a lista de escolas, mas a generalização da afirmação permite a seguinte resposta: vários destes diretores são remanescentes do último processo de escolha de diretores por parte das comunidades escolares. Portanto, é uma leviandade dizer que são mantidos nos cargos por padrinhos políticos. 2. O subsecretário de Gestão de Pessoas, Luiz Carlos Becker justifica as exonerações dizendo que “Havia muitos exemplos de descaso com a administração das escolas”. E exemplifica: “Há problemas sérios, de falta de prestação de contas, o que faz com que a unidade fique sem poder receber verbas não só do estado, como do governo federal para a sua manutenção”. Pondera, no entanto, o digno subsecretário, que “os motivos só não estão sendo expostos exatamente para preservar os profissionais”. Como assim, senhor subsecretário? Diretores de escola, eleitos, indicados por padrinhos políticos ou selecionados em processos de escolha das secretarias de educação, ocupam cargos públicos. E quem ocupa cargos públicos deve satisfação à sociedade, que é quem financia os recursos que são usados para pagar seus salários – que deixam de ser públicos quando entram na conta corrente do mesmo - e os recursos que são destinados ao órgão sob sua responsabilidade – que continuam públicos até serem utilizados em alguma finalidade. Se a SEEDUC afirma que há descaso e que diretores não prestam contas esta informação interessa a toda a sociedade que financia a administração pública. Até o Governador, subsecretário, tem a obrigação de prestar contas. Mesmo que saibamos que, muitas vezes, parte importante do dinheiro público seja utilizada para comprar a omissão do Judiciário e a cumplicidade do Legislativo para não responsabilizar o Governador pelos “mimos” que recebe de grandes fornecedores do Estado. Agindo da forma que agiu, o subsecretário insinuou que todos os diretores exonerados são desonestos. Deve assumir as consequências da afirmação que fez. 3. Segundo a diretora do Instituto de Educação Rangel Pestana, a exoneração dela se deveu ao alto índice de reprovação da escola e ao fato de não ter feito o Censo. Estranho. O IERP tem índice de reprovação abaixo da média do Estado e a diretora, Luiza Leopoldina, comprova que entregou o Censo. Vamos falar sério agora, subsecretário. Sério é o exemplo que professores, funcionários e estudantes do IERP e de tantas escolas do Rio de Janeiro dão à sociedade ao mobilizarem-se contra a arbitrariedade travestida de gestão responsável e competente cometida pelo Governo do Estado. As centenas de futuros educadores e futuras educadoras que têm ocupado as ruas de Nova Iguaçu e do Rio de Janeiro ajudarão em muito a educação brasileira ao levarem este exemplo de rebeldia e luta para os lugares onde atuarão em breve.

1 de maio de 2012

Brincando de escola

Dia 25 de abril de 2012: entro na sala dos professores e minha atenção é atraída por um aviso no mural: “senhores professores, por ordem da Secretaria de educação, todos os alunos que comparecerem à prova do SAERJinho ganharão dois pontos”. Como? Basta comparecer? Não precisa nem jogar a partida para valer? Antes que eu tivesse tempo de ruminar todas minhas críticas cáusticas fui convocado a ajudar na aplicação da prova. Entro na sala e não consigo me surpreender com o estádio cheio como nunca presenciara. São 37 alunos. Não dá tempo de começar a organizar o início da partida e um dos meus alunos me pergunta: “Emílio, é verdade que basta fazer a prova e ganharemos dois pontos?”. Que resposta dar numa hora destas? Assumir o “faz de conta” me parece mais digno. Estávamos ali para “cumprir tabela”. Quando começo a distribuir os cadernos de questões e castões de resposta outra surpresa: os grandes defensores de uma gestão competente e profissional, marcada pela busca de resultados não têm competência para organizar uma avaliação que já é realizada há mais de um ano. Quinze dos presentes não estão na lista do grupo e, claro, também não recebem cartões de respostas oficiais. Sobram outros tantos cartões e identifico pelos nomes vários alunos que não são daquela turma. Apitado o início da partida, o aluno que me perguntou sobre a compensação pelo esforço de fazer a prova é o primeiro a concluir a prova. Ele sequer abriu o caderno de questões. Marcou aleatoriamente todo o cartão resposta. Outro aluno logo me entrega a prova também e foi mais criativo: fez um desenho simétrico usando o preenchimento das lacunas do cartão resposta. São 52 questões respondidas de qualquer jeito por boa parte. Eles reclamam da exigência de preencher toda a lacuna da questão escolhida e não reclamam da complexidade das questões e nem festejam a facilidade das mesmas. As mesmas elites que deixaram pais e avós de meus alunos durante séculos sem escola agora lhes dão uma vaga numa sala de aula e, na maioria das vezes, até professores. Mas continuam negando a estes jovens o direito a uma escola de boa qualidade. Impossível não pensar como agirão no mundo crianças e jovens que são tratadas desta forma pelos Governos com a nossa conivência.