13 de novembro de 2009

Até quando volta atrás a universidade paulista pensa em dinheiro

A decisão da universide de São Bernardo do Campo de anular a expulsão de uma aluna não muda minha opinião sobre ela.

Num flagrante "erro de cálculo", a universidade não esperava que a decisão provocasse tanta revolta e críticas nos meios acadêmico e jurídico.

A imagem de instituição preconceituosa e autoritária não muda com a decisão da sua direção. Assim como decidiu expulsar para proteger seus ganhos financeiros, revogou a expulsão para não perder dinheiro.

Deixe Lindberg ser candidato, Presidente.

Caro Presidente,

Desculpe-me lhe tirar de seus afazeres para lhe incomodar com um assunto tão sem importância. Afinal, suas ocupações transcendem em muito coisas tão triviais. Sei de suas tantas preocupações com os prejuízos que a violência no Rio de Janeiro pode causar a imagem da Cidade Olímpica, esta crise causada pelo golpe em Honduras, que não tem fim, as divergências para ver quem vai embolsar mais os royalties do Pré-Sal, os acordos para ampliar a base de apoio à candidatura da Dilma, e tantas outras questões de difícil solução. Com tantas coisas desta importância para resolver é muita pretensão a minha lhe pedir para tratar de coisa tão trivial. No entanto, conto com sua sensibilidade com os problemas do povo, ainda que seja outra pretensão minha esta: falar em nome dele, o povo.

Mas depois de tantos pedidos de desculpas e tantas solicitações para permitir-me falar de minhas preocupações, permita-me ocupar alguns poucos minutos de seu tempo para pedir-lhe pela candidatura de Lindberg ao Governo do Rio de Janeiro. Por favor, Lula - permita-me quebrar as cerimônias do tratamento com o Chefe de Estado e relembrar-lhe os velhos tempos, ainda que mortos e enterrados, em que éramos companheiros de Partido em suas jornadas pela Presidência do país -, deixe que ele se candidate ao Governo.

Meus argumentos são simplórios, devo confessar, mas acredito de verdade, que você - opaaaa! - não terá motivos para se arrepender de conceder a ele este desejo - veja que não é a mim e sequer sou porta-voz da vontade dele. Longe de mim.

A candidatura do Prefeito não pode ser utilizada como argumento para atrapalhar a aliança com o PMDB, afinal a força eleitoral do PT desmoronou desde a experiência genial e desastrosa do mandato tampão de Benedita da Silva, em 2002. Veja que o PT tem apenas 6 deputados estaduais no RJ o que é muito pouco para impedir que Sérgio Cabral tenha maioria na ALERJ.

Como o seu Partido está dividido em torno do apoio ao Cabral e ao Lindberg, como já aconteceu em tempos de intervenção para impor a candidatura do Garotinho, qualquer que seja o candidato do PT, o outro pedaço vai fazer o que lhe der na telha. Você sabe muito mais do que eu que é assim que funciona.

Agora, Presidente, para a Cidade de Nova Iguaçu isto faz uma diferença que, daí de Brasília, você não tem condições de dimensionar. É eleição das direções do PT, depois a disputa para decidir a candidatura, depois, quem sabe, a própria candidatura. Isto custa uma dinheirama. As contas da Cidade vão financiar isto, aliás estão financiando. São centenas de cargos comissionados para fortalecer a candidatura no PT, é muito dinheiro para alimentar a estrutura da futura campanha. O Prefeito já fez antecipação de receitas de royalties por anos e anos, já pegou dinheiro do Fundo de aposentadoria. E como você sabe, depois deste verão aqui, ele vai “voar” em outros cantos e nem vai passar perto deste canto onde ele fincou a bandeira desta aventura. Por outro lado, disso você sabe mais ainda (ou não sabe?): ele não é bom pagador.

Nesta altura, você deve estar perguntando: “mas ele não é um bom prefeito?”. Você precisa voltar aos seus afazeres. Disso eu falo depois pra você.

9 de novembro de 2009

Mujica significa Uruguai

Leio a Revista de O Globo no domingo, 8 de novembro, e uma leitora mandou este diálogo que ouviu:
- Como você tem coragem de sair assim, coberta de jóias com essa violência toda?
- Mas é que andar a pé mesmo eu só ando aqui na esteira, no mais é só carro blindado.

Meu interesse pelas eleições uruguaias tem duas motivações. Uma é o gosto pela política em geral. A segunda é que o sistema educacional destes nossos vizinhos do Sul faz parte de meus estudos de pós-graduação. As eleições uruguaias, portanto, me interessam mais que as eleições norte-americanas. Por isso, nos últimos meses, acompanho de terras longínquas o esforço da Frente Ampla - uma coalizão política que acabou com a hegemonia secular dos blancos e colorados - para eleger o sucessor de Tabaré Vasquez, o atual presidente.

Em 29 de novembro, José Mujica venceu Luis Lacalle, do Partido Nacional, o segundo turno das eleições. A participação deste militante tupamaro nas eleições uruguaias me chamou a atenção por sua simplicidade e sua naturalidade no trato com as coisas da política. Senador da República Oriental como sua companheira, Mujica trabalha em uma pequena chácara nos arredores de Montevidéu, onde cultiva flores. Apesar de ter alcançado uma posição ambicionada por muitos políticos brasileiros, Mujica afirma que, se perder as eleições, vai se dedicar a uma escola rural que abrirá em seu sítio.

Foi impossível não associar seu jeito simples ao próprio Uruguai. Me chamou a atenção quando conheci a capital uruguaia e Colônia do Sacramento a simplicidade. Os prédios não ostentam a riqueza da arquitetura como nas principais cidades do Brasil ou em Buenos Aires. Nem mesmo as igrejas têm uma arquitetura rica. Nas ruas largas e arborizadas, de casas e prédios simples, são comuns os carros de modelos fora de linha, como o fusca de Mujica e, poucas vezes são vistos carros mais luxuosos. O maior shopping center de Montevidéu funciona onde antes era o presídio em que o candidato a presidente passou 13 anos preso durante a ditadura militar. Muitos apaixonados por estas catedrais de consumo no Brasil ficariam horrorizados com a simplicidade do lugar.

Com pouco mais de 3,3 milhões de habitantes, a simplicidade uruguaia talvez se explique pela própria dimensão do seu mercado consumidor. O país possui cerca de um milhão de alunos em todos os níveis de ensino o que é menos do que os alunos da Cidade do Rio de Janeiro. Seus problemas, portanto, são muito diferentes dos nossos, com população e território gigantescos, mas principalmente, com desigualdades sociais abissais.

Mujica me parece ser a expressão de uma parte importante do que vi nas ruas do Uruguai. A simplicidade dele fica parecendo a simplicidade de um país.

A atitude empresarial é a complacência com quem paga mensalidade

O jornal deste domingo, dia 8 de novembro, noticia que uma Universidade de São Paulo publicou anúncio nos jornais informando que expulsou a aluna Geysi Arruda, que trajando um vestido curto, foi hostilizada por algumas centenas de alunos(as) e saiu do campus sob proteção policial.

Não conheço os alunos e seus motivos e não faço qualquer questão de conhecê-los. O que eles têm a me ensinar eu aprendo me divertindo nas arquibancadas dos estádios de futebol. Não conheço a universidade e, se precisar trabalhar nela para comprar comida, prefiro mudar de profissão e pedir ajuda aos meus muitos amigos.

Mas à alegação da universidade de que expulsou a aluna “em razão do flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade” me ocorrem três imagens:

A primeira é uma interrogação. Se ao contrário de uma moça da periferia e funcionária de supermercado, fosse a filha de um abastado empresário de São Bernardo do Campo, a direção da universidade a teria expulsado da mesma forma?

A segunda imagem á a dos gerentes de um supermercado proibindo a entrada em suas dependências de um homossexual ou de um negro ou de um deficiente mental por estarem perturbando a tranquilidade de seus demais clientes indignados com companhia tão “indesejável”. As motivações são as mesmas e a proteção aos negócios em detrimento dos direitos da pessoa humana seriam óbvias.
A terceira e última são os alunos da mesma universidade, defensores da moral e dos bons costumes, viajando de metrô para uma aula de campo na Praça da Sé, expulsando das dependências do trem uma garota que, vestida num micro-short destes tão comuns nas ruas do Brasil, por estarem incomodados com a ofensa da presença dela. Se eles podem na universidade que os dá guarida, por que não poderiam em outro lugar sob a proteção e o silêncio da sociedade?

Se os policiais que retiraram a aluna da universidade não a indiciaram por atentado ao pudor, quem são os donos dela para condenarem a roupa e os gestos dela?

A decisão da universidade teve uma motivação. Pela repercussão dos fatos precisava tomar uma atitude. Se agisse contra os alunos que hostilizaram a aluna perderia algumas dezenas deles que se sentiriam ofendidos como acontece com tantos jovens que ouvem um NÃO de seus pais. Expulsar a aluna era a decisão mais econômica.

Serei chamado de intransigente. Prefiro a intransigência. Deixo o cinismo para a universidade.