9 de novembro de 2009

Mujica significa Uruguai

Leio a Revista de O Globo no domingo, 8 de novembro, e uma leitora mandou este diálogo que ouviu:
- Como você tem coragem de sair assim, coberta de jóias com essa violência toda?
- Mas é que andar a pé mesmo eu só ando aqui na esteira, no mais é só carro blindado.

Meu interesse pelas eleições uruguaias tem duas motivações. Uma é o gosto pela política em geral. A segunda é que o sistema educacional destes nossos vizinhos do Sul faz parte de meus estudos de pós-graduação. As eleições uruguaias, portanto, me interessam mais que as eleições norte-americanas. Por isso, nos últimos meses, acompanho de terras longínquas o esforço da Frente Ampla - uma coalizão política que acabou com a hegemonia secular dos blancos e colorados - para eleger o sucessor de Tabaré Vasquez, o atual presidente.

Em 29 de novembro, José Mujica venceu Luis Lacalle, do Partido Nacional, o segundo turno das eleições. A participação deste militante tupamaro nas eleições uruguaias me chamou a atenção por sua simplicidade e sua naturalidade no trato com as coisas da política. Senador da República Oriental como sua companheira, Mujica trabalha em uma pequena chácara nos arredores de Montevidéu, onde cultiva flores. Apesar de ter alcançado uma posição ambicionada por muitos políticos brasileiros, Mujica afirma que, se perder as eleições, vai se dedicar a uma escola rural que abrirá em seu sítio.

Foi impossível não associar seu jeito simples ao próprio Uruguai. Me chamou a atenção quando conheci a capital uruguaia e Colônia do Sacramento a simplicidade. Os prédios não ostentam a riqueza da arquitetura como nas principais cidades do Brasil ou em Buenos Aires. Nem mesmo as igrejas têm uma arquitetura rica. Nas ruas largas e arborizadas, de casas e prédios simples, são comuns os carros de modelos fora de linha, como o fusca de Mujica e, poucas vezes são vistos carros mais luxuosos. O maior shopping center de Montevidéu funciona onde antes era o presídio em que o candidato a presidente passou 13 anos preso durante a ditadura militar. Muitos apaixonados por estas catedrais de consumo no Brasil ficariam horrorizados com a simplicidade do lugar.

Com pouco mais de 3,3 milhões de habitantes, a simplicidade uruguaia talvez se explique pela própria dimensão do seu mercado consumidor. O país possui cerca de um milhão de alunos em todos os níveis de ensino o que é menos do que os alunos da Cidade do Rio de Janeiro. Seus problemas, portanto, são muito diferentes dos nossos, com população e território gigantescos, mas principalmente, com desigualdades sociais abissais.

Mujica me parece ser a expressão de uma parte importante do que vi nas ruas do Uruguai. A simplicidade dele fica parecendo a simplicidade de um país.

Nenhum comentário:

Postar um comentário