1 de maio de 2012

Brincando de escola

Dia 25 de abril de 2012: entro na sala dos professores e minha atenção é atraída por um aviso no mural: “senhores professores, por ordem da Secretaria de educação, todos os alunos que comparecerem à prova do SAERJinho ganharão dois pontos”. Como? Basta comparecer? Não precisa nem jogar a partida para valer? Antes que eu tivesse tempo de ruminar todas minhas críticas cáusticas fui convocado a ajudar na aplicação da prova. Entro na sala e não consigo me surpreender com o estádio cheio como nunca presenciara. São 37 alunos. Não dá tempo de começar a organizar o início da partida e um dos meus alunos me pergunta: “Emílio, é verdade que basta fazer a prova e ganharemos dois pontos?”. Que resposta dar numa hora destas? Assumir o “faz de conta” me parece mais digno. Estávamos ali para “cumprir tabela”. Quando começo a distribuir os cadernos de questões e castões de resposta outra surpresa: os grandes defensores de uma gestão competente e profissional, marcada pela busca de resultados não têm competência para organizar uma avaliação que já é realizada há mais de um ano. Quinze dos presentes não estão na lista do grupo e, claro, também não recebem cartões de respostas oficiais. Sobram outros tantos cartões e identifico pelos nomes vários alunos que não são daquela turma. Apitado o início da partida, o aluno que me perguntou sobre a compensação pelo esforço de fazer a prova é o primeiro a concluir a prova. Ele sequer abriu o caderno de questões. Marcou aleatoriamente todo o cartão resposta. Outro aluno logo me entrega a prova também e foi mais criativo: fez um desenho simétrico usando o preenchimento das lacunas do cartão resposta. São 52 questões respondidas de qualquer jeito por boa parte. Eles reclamam da exigência de preencher toda a lacuna da questão escolhida e não reclamam da complexidade das questões e nem festejam a facilidade das mesmas. As mesmas elites que deixaram pais e avós de meus alunos durante séculos sem escola agora lhes dão uma vaga numa sala de aula e, na maioria das vezes, até professores. Mas continuam negando a estes jovens o direito a uma escola de boa qualidade. Impossível não pensar como agirão no mundo crianças e jovens que são tratadas desta forma pelos Governos com a nossa conivência.

2 comentários:

  1. Muito bem coloca mi camarada.... assino embaixo... parabens

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  2. Emílio, estas e outras ações contra o aprendizado das nossas crianças e jovens estão a solta como ervas daninhas nas escolas. Constato tal fato indignada e de mãos atadas pois, não encontramos ninguém que nos dê uma resposta possível ou abra espaços para negociar estas intempéries! Vejo meus colegas cuidando só dos seus problemas, direção e coordenação repetindo ordens burrocráticas, fazendo com que sejamos um ET nas nossas falas e reivindicações! Estou cansada, mas, não quero desistir porque não aguento ser de outra forma! Assim vejo nossa política, nossa economia entre outros setores deste país. As leis do menor esforço, do egoísmo, do descaso imperam! Parabéns pela sua reação contra "o que não pode ser que não é..." Bjs!

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